NOSSA SENHORA DA PIEDADE
Nossa Senhora da Piedade é aquela que recebendo o Divino Filho
em seus braços, depois de sua morte trágica na Cruz, levou-o com os fiéis
discípulos e piedosas mulheres até o sepulcro. Foi sempre um tema muito
procurado pela arte cristã que encontra nos episódios da vida de Jesus e de sua
Santíssima os motivos para edificação, mais ainda, porque nos sofrimentos,
encontram os cristãos, um grande consolo, verificando que eles são próprios ao
caminho da perfeição, e se Deus os teve, com sua Mãe, não é demais que os
mortais os suportem.
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A mais remota representação da Senhora da Piedade em Portugal,
foi pintada em madeira, que se encontrava numa das capelas do claustro da Sé em
Lisboa.
Pertencia a urna antiquíssima Irmandade, que tinha por função
principal enterrar os mortos, visitar e confortar os encarcerados e acompanhar
os criminosos que iam padecer a pena ultima. Essa pintura representando Nossa
Senhora assentada ao pé da Cruz, tendo nos braços Jesus Morto, foi o emblema das
Casas de Misericórdia, que por iniciativa de frei Miguel de Contreiras, se
fundaram em Portugal, começando pela de Lisboa. Tinha essa Nossa Senhora da Sé
de Lisboa, uma Irmandade que se supõe já existia desde antes do ano de 1230,
pois foi nesse ano que ela figura no acompanhamento do pai de Santo Antônio, que
acusado falsamente de um crime, ia ser levado à forca, quando seu filho, o
grande taumaturgo português chegou a tempo de salvá-lo, por uma milagrosa
demonstração de sua inocência.
Muito venerada em Portugal era Nossa Senhora da Piedade de
Merceana, que segundo a tradição aparecera no tronco de uma árvore, no início do
século XII. Contam que, certo dia, um lavrador começou a notar que um dos bois
de sua manada, lhe desaparecia todo dia à mesma hora, voltando pouco depois.
Seguiram o boi e verificaram dirigir-se o animal a uma carvalheira, debaixo da
qual se ajoelhava, olhando para um dos galhos.
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Encontraram então uma pequena efígie gótica da Senhora da
Piedade, que mais tarde foi colocada numa capela construída naquele sítio.
Este culto deve ter entrado no estado de Minas Gerais através
dos bandeirantes, pois Nossa Senhora da Piedade era a padroeira de
Guaratinguetá, passagem obrigatória nos tempos
viajantes que transitavam entre Rio de Janeiro e São Paulo, e
cujo porto era muito freqüentado pelos aventureiros que subiam a serra da
Mantiqueira à procura dos veios auríferos nos Campos dos
Cataguás.
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Talvez o primeiro santuário de Nossa Senhora da Piedade naquela
província tenha sido o de Barbacena, antiga Borda de Campolide, onde era
venerada uma imagem da Virgem trazida de Portugal por algum imigrante ou por um
padre jesuíta, e cuja matriz foi benta em 1748. Daí a devoção se espalhou pela
terra mineira, indo localizar-se principalmente na Serra da Piedade.
Segundo a tradição, esse santuário plantado no alto da
montanha, próxima a Caeté, se prende as perseguições que o Marques de Pombal
moveu contra Os jesuítas e varias famílias nobres da Lusitânia. Entre os
fugitivos da vingança do ministro de D. José I encontrava-se o arquiteto
Antônio da Silva Bracarena, que prometera à Virgem Santíssima construir-lhe uma
igreja, se ficasse livre. Tendo se refugiado na Vila Nova da Rainha (hoje
Caeté), resolveu erigir um templo no alto da serra que ele avistara rodeada de
nuvens. Sua decisão tornou-se mais forte quando soube de um estranho fato
acontecido naquele local, alguns anos antes. Uma menina, muda de nascença,
avistou por várias vezes no alto da montanha, aureolada de luz, a Virgem Maria
trazendo nos braços o seu Divino Filho morto, e após estas visões principiou a
falar corretamente.
Bracarena iniciou então a edificação da igreja e mandou vir da
cidade do Porto uma imagem de Nossa Senhora da Piedade, de tamanho natural,
reprodução em madeira da célebre Pietá de Miguel Ângelo. Esta efígie se encontra
ainda hoje no altar-mor da igreja serrana e a ela são atribuídos vários
milagres, que atraem todos os anos milhares de peregrinos.
A construção desta capela foi muito demorada, tendo terminado
somente em 1770, com o auxílio do povo, e desde então a serra passou a ser
denominada Serra da Piedade. Após a morte de Bracarena, que foi sepultado
no adro do templo, debaixo do altar da Virgem, vários ermitões o sucederam,
continuando a zelar pela Senhora. Apesar disto, a igreja chegou a ameaçar ruir,
mas, devido à intercessão do cardeal D. Carlos Carmelo de Vasconcelos Mota, o
Patrimônio Histórico e Artístico Nacional resolveu restaurar a tradicional
capela, que foi entregue aos cuidados dos frades dominicanos. Por
iniciativa desses religiosos foi iniciada a construção da Casa dos
Romeiros a fim de abrigar melhor o grande número de fiéis que anualmente sobem a
montanha para renderem homenagem à Virgem Santíssima.
Nossa Senhora da Piedade já era considerada um pouco protetora
geral de todos os mineiros, quando em 1958 assim foi proclamada por bula
do papa João XXIII. Contudo, a sua consagração oficial como Padroeira do Estado
de Minas Gerais deu-se a 31 de julho de 1960, na Praça da Liberdade em Belo
Horizonte, com a presença do Governador de Minas e autoridades civis, militares
e religiosas.
A capela de Nossa Senhora da Piedade, situada a quase 1800
metros de altitude, apresenta ao devoto que sobe a sua escarpada montanha um
panorama amplo e maravilhoso e uma alegria semelhante, com certeza, aquela que
ele sentirá ao atingir o Paraíso Celeste após a rude caminhada neste mundo,
guiado e auxiliado pelas mãos suaves de Maria.
Esta devoção é muito divulgada no Brasil, pois, além das 73
igrejas que a tomaram por Padroeira, encontramos imagens da Virgem Dolorosa em
quase todos os antigos templos, espalhados pelo nosso
País.
Fontes:
Augusto de Lima Júnior, em "História de Nossa Senhora em Minas
Gerais", Imprensa Oficial, Belo Horizonte, 1956, pp.
131-139.
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Nilza Botelho Megale, em "Invocações da Virgem Maria no
Brasil", Ed. Vozes, 4a. edição, pp. 383-387.
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