sábado, 31 de março de 2012

São Cláudio la Colombière chancela as revelações



Pe. Cláudio la Colombière, diretor espiritual da santa
Madre de Saumaise ficava cada vez mais confusa no julgamento que deveria fazer de Margarida Maria. Achava-a piedosa, obediente, dócil; entretanto não conseguia interpretar os fenômenos místicos que se passavam com ela. Acreditava na sua sinceridade, porém não tinha ciência teológica para julgar por si mesma o espírito que guiava Margarida. Por isso, julgou prudente fazer com que ela conversasse com alguns eclesiásticos e lhes expusesse o que com ela se passava, para ver que opinião formariam dela. E especialmente com o Padre la Colombière, recentemente nomeado diretor da casa dos jesuítas de Paray.
Logo em sua primeira preleção às monjas, ele notou uma que o ouvia mais atentamente. A superiora informou-lhe que se tratava da Irmã Margarida Maria. “É uma alma visitada pela graça”, comentou o jesuíta.  Ao mesmo tempo, uma voz interior dizia a Margarida: “Eis aquele que te envio”.(22)
Como os santos geralmente falam a mesma linguagem, o Padre la Colombière e a Irmã Margarida Maria logo se entenderam. Por ordem da Madre de Saumaise, “abri-lhe então, sem custo e com toda a lhaneza, o coração, e descobri-lhe o íntimo de minha alma, o bem e o mal”, relata Margarida Maria em sua autobiografia.(23)
Cláudio la Colombière representou assim a caução humana das visões de Margarida Maria. Acontecesse o que fosse — e muita perseguição e incompreensão ainda teriam lugar —, um fato irremissível estava posto: o jesuíta afamado por sua prudência e segurança de juízo estava certo da autenticidade das visões da Irmã Margarida Maria.
Nova Superiora prova Margarida Maria
Madre Péronne Rosália Greyfié chegou para substituir a Madre de Saumaise, no dia 18 de junho de 1678. Ao contrário desta, de grande simplicidade e amabilidade, a Madre Greyfié era rígida e austera, e tomou o partido de fingir que ignorava tudo o que se passava com Margarida Maria, deixando-a até ser objeto de críticas da comunidade, mesmo em coisas por ela autorizadas. Entretanto, tinha-a em alta conta: “Eu notava ainda que as graças que Nosso Senhor lhe concedia serviam para aprofundá-la no baixo sentimento que tinha de si mesma, o que a fazia crer que todas as criaturas tinham o direito de a desprezar e criticar em tudo, levando-a a amar como um tesouro essas ocasiões, das quais ela teria querido somente excluir o que ofendesse a Deus, afligindo-se de ser a causa disso”.(24)
Nosso Senhor lhe disse outro dia que, como havia feito em relação a Jó, o demônio pedira para tentá-la “no cadinho das contradições e humilhações, das tentações e desamparos, como o ouro no fogo”, e que Ele tudo permitira, exceto que a tentasse contra a pureza; que Ele estaria em seu interior como fortaleza inexpugnável, resistindo por ela. “Mas era necessário vigiar continuamente sobre todo o exterior, que do interior cuidaria Ele”. Desde então o demônio não lhe dava trégua, chegando mesmo, uma vez, a lançá-la do alto de uma escada com um braseiro na mão. Mas seu Anjo da Guarda amparou-a e ela nada sofreu.  
“Não haverá quem queira padecer comigo?”
Indo um dia comungar, Margarida viu a sagrada Hóstia resplandecente como um sol. Em seu centro estava Nosso Senhor Jesus Cristo tendo uma coroa de espinho na mão. Colocou-a na cabeça de Margarida, dizendo: “Toma, minha filha, esta coroa em sinal da que em breve te será dada, para te assemelhares a mim”. A religiosa diz que no momento não compreendeu o significado daquilo, mas que bem depressa o soube por duas violentas pancadas que recebeu na cabeça, “de maneira que me parecia ter a cabeça rodeada de pungentíssimos espinhos, cujas picadas não acabarão senão com a minha vida”.(25)

Na proximidade da Quarta-feira de Cinzas, provavelmente de 1681, Nosso Senhor apareceu-lhe depois da Sagrada Comunhão, “sob a figura de um Ecce Homo, carregando a Cruz, todo coberto de chagas e pisaduras, escorrendo o sangue por todo o corpo”. Disse-lhe: “Não haverá ninguém que tenha compaixão de mim e queira padecer comigo e tomar parte na minha dor, no lastimoso estado a que me reduzem os pecadores, sobretudo agora?”
A generosa Margarida Maria prosternou-se junto aos pés divinos e ofereceu-se, em lágrimas e gemidos, para carregar a Cruz. Esta pareceu-lhe toda cheia de pontas de prego, e ela sentiu-se quase sucumbir sob seu peso. Com isso, diz ela, “comecei a compreender melhor a gravidade e malícia do pecado, que eu detestava tanto em meu coração, e mil vezes preferia precipitar-me no inferno em vez de cometer um só pecado voluntariamente”.(26)
Mensagem ao “filho primogênito de meu Coração”
Túmulo da Santa em Paray-le-Monail – No detalhe, a face da vidente
A devoção ao Coração de Jesus ia fazendo seu caminho, dentro e fora dos muros da Visitação. O Sagrado Coração queria entretanto muito mais. Desejava ser adorado pelas elites, pela nobreza do país e do mundo, mas também que essa vitória viesse por intermédio do mais poderoso monarca da época.
Assim, incumbiu a sua fiel serva de transmitir ao Rei da França, Luís XIV — a quem chama afetuosamente “filho primogênito de meu Sagrado Coração” — a seguinte mensagem: Queria associá-lo ao triunfo de seu Sagrado Coração, prometendo-lhe, caso fizesse o que lhe era pedido, cobri-lo de glória ainda nesta Terra, como a nenhum outro Rei, e por fim conceder-lhe a glória do Céu.
Não sabemos se o augusto destinatário tomou conhecimento da divina mensagem, nem se ela foi entregue ao confessor do Rei, Padre de La Chaise. Uma coisa, entretanto, é certa: os pedidos do Sagrado Coração de Jesus ao Rei Luís XIV jamais foram atendidos.
Não viveria muito mais, porque não sofria mais
Uma nova superiora, Madre Catarina Antonieta de Lévy-Châteaumorand, para aliviar ou para provar a Irmã Margarida, que apesar de ter somente 43 anos já estava muito enfraquecida pelas penitências e longas enfermidades, proibiu-lhe a hora de adoração noturna da quinta para a sexta-feira e todas as austeridades que ela praticava, exigindo-lhe mesmo a devolução dos instrumentos de penitência.(27)
No mês de junho de 1690, Margarida dizia: “Eu não viverei muito mais, porque não sofro mais”. Com efeito, esta santa, considerada uma das maiores místicas da Igreja, entregou sua bela alma a Deus no dia 17 de outubro desse mesmo ano.

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