Santa Margarida Maria Alacoque, a confidente do Coração
de Jesus
Algumas mensagens do Sagrado
Coração foram abordadas em nossa edição de junho de 2003. A presente matéria
versa sobre a vida dessa santa, qualificada por Nosso Senhor como “discípula
dileta do meu Coração”.
-
Plinio Maria Solimeo
Basílica românica de Paray-le Monial, edificada nos séculos XI e XII - Uma das aparições do Sagrado Coração à vidente(azulejo em Póvoa do Varzin - Portugal) |
Foi então que Nosso Senhor Jesus Cristo apareceu a
Margarida Maria Alacoque, jovem religiosa da Ordem da Visitação, para
transmitir sua mensagem de misericórdia e confiança, expressa no Coração humano
e divino do Verbo Encarnado. O culto ao Sagrado Coração de Jesus obteve a partir
de então grande impulso e alastrou-se por toda a Igreja. Infelizmente, com a
descristianização geral, hoje essa devoção — aliás, como tantas outras — perdeu
praticamente todo o seu sentido de adoração, reparação e petição, tão
necessários nos nossos tempos.
A família de Santa Margarida Maria
Alacoque
Margarida foi a quinta dos filhos de Cláudio Alacoque e
de Felisberta Lamyn, e nasceu a 22 de julho de 1647. Foi batizada três dias
depois, tendo como padrinho um primo de seu pai, o Padre Antônio Alacoque, e
como madrinha a senhora Margarida de Saint-Amour, esposa do senhor de Corcheval,
Cláudio de Fautrières.
Viviam com Cláudio Alacoque, além da mulher e filhos, a
mãe viúva, Joana Delaroche; a irmã Benedita, casada com o primo Toussaint
Delaroche, e seus quatro filhos; e sua tia-avó, Benedita Meulin, mãe de
Toussaint.(1)
Cláudio, além de exercer o cargo de tabelião em
Lhautecour, era juiz dos senhorios de Terreau, Corcheval e Pressy, e também
notário ordinário de Terreau e Corcheval, o que lhe dava certa importância na
vizinhança e fartura em casa. Por isso, era presença indispensável em quase
todos os casamentos e batizados locais, seja na qualidade de padrinho, seja na
de testemunha.
Preservada, desde o berço, da mancha de pecado
atual
Veroscres, aldeia natal de Santa Margarida Maria, na Borgonha |
Margarida teria uns quatro anos quando, a pedido da
madrinha, foi morar com ela em seu castelo, em Beauberry. Queria a nobre dama,
como era costume no tempo, cuidar da educação da afilhada.
Na capela de Corcheval, aos cinco anos de idade, “sem
saber o que dizia, sentia-me continuamente impelida a dizer estas palavras: ‘Meu
Deus, eu Vos consagro a minha pureza e Vos faço voto de perpétua
castidade’”.(3)
Contemplativa desde a infância e devota de Nossa
Senhora
Afirma seu primeiro biógrafo: “Desde a infância lhe
ensinou o Espírito Santo o ponto capital da vida interior, comunicando-lhe o dom
de oração. Seu maior prazer era passar horas inteiras em oração; quando não a
encontravam em casa, iam à igreja, onde deparavam com ela imóvel diante do
Santíssimo Sacramento”.(4)
No ano de 1654, Margarida, com
oito anos, voltou para o lar paterno. Mas não para gozar por muito tempo da
alegria da família reunida. Nesse ano morreu-lhe a irmãzinha Gilberta, e no
seguinte o pai, aos 41 anos. Deixava a viúva com cinco filhos para cuidar (sendo
que o caçula tinha apenas quatro anos), e uma situação econômica apenas
equilibrada.
A senhora Alacoque colocou os filhos mais
velhos em colégios, e Margarida como educanda no convento das clarissas
mitigadas de Charolles.
Vendo sua precoce piedade, as monjas permitiram que
fizesse a Primeira Comunhão aos nove anos de idade, quando o costume na época
era aos doze. Afirma ela: “Esta comunhão derramou tanto amargor em todos os meus
prazeres e divertimentos, que já não podia achar gosto em nenhum, apesar de os
procurar com afã”.(5)
Sinal de predestinação é a devoção a Nossa Senhora. E
Margarida sempre a teve desde os albores da razão: “A Santíssima Virgem teve
sempre grandíssimo cuidado de mim, e a Ela é que eu recorria em todas as minhas
aflições. Foi Ela que me apartou de perigos muito grandes”.
Antes mesmo de São Luís Maria Grignion de Montfort ter
popularizado a devoção da Sagrada Escravidão a Nossa Senhora, Margarida
consagrou-se a Ela como escrava.(6)
“Os ossos furavam-me a pele de todos os
lados”
Nossa Senhora curou a vidente de grave doença, quando ela tinha 11 anos |
Uma grave doença, que alguns diziam ser reumatismo, e
outros paralisia, pôs a vida de Margarida em perigo, obrigando a família a
retirá-la do convento e levá-la para casa. A doença durou quase quatro anos. A
menina ficou semiparalítica e tão magra, que “os ossos furavam-me a pele por
todos os lados”, e não podia andar. Os médicos esgotaram toda a sua ciência sem
nenhum resultado.
Resolveu então consagrar-se a Nossa Senhora,
prometendo-lhe que, se sarasse, seria uma de suas filhas. “Apenas fiz o voto
– declara Margarida – fiquei logo curada da doença, com nova proteção da
Santíssima Virgem, a qual tomou tão inteira posse do meu coração, que,
olhando-me como filha sua, governava-me como coisa que lhe fora consagrada;
repreendia-me por minhas faltas e ensinava-me a cumprir a vontade de
Deus”.(7)
Sua mãe tinha-se despojado da própria
autoridade
Casa onde nasceu a Santa. |
Nosso Senhor queria dela, também nisso, uma virtude
heróica: “Nem uma queixa, nem um desabafo ou ressentimento consentia Ele em mim
contra aquelas pessoas; nem que eu permitisse que outros me lastimassem ou
tivessem compaixão de mim”.(9)
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