O primeiro olhar de Jesus para Maria
fevereiro 27, 2009
Espiritualidade
Maria Emmir Nogueira
A família de Yosseph Ben Yaaqov prepara-se para retornar a Nazaré. Alguns dias mais e estarão de volta. Maria deseja muito ir para sua casa, na qual havia passado tão pouco tempo. José pensa na carpintaria, no pequeno catre que pretende reformar assim que chegar. Afinal, segundo seu conceito, Yeshuah “já está enorme!”
Maria passa o tempo a cuidar do nenê, lavar suas roupas, tecer para Ele, ajudar a anfitriã nas tarefas de casa. Tem de admitir o que José e todos lhe dizem: o Menino parece-se muitíssimo com ela! Em seu rostinho, pode reconhecer o seu próprio nariz, seu queixo, sua boca, seus cabelos castanhos e finos, suas mãos longas, o formato das unhas das mãos e pés… A Mãe não sabe o que pensar. Claro, o Menino tinha de parecer com ela, pensava, às vezes. Logo depois, porém, perguntava-se:
“Mas não havia de parecer-se com Adhonay?”… “Segundo a Torah, todos não se pareciam com Ele, todos não seriam sua imagem e semelhança?” e logo voltava ao primeiro pensamento, sem pretender entender, mas incapaz de deixar de maravilhar-se com mais este mistério.
Veio-lhe à lembrança Gabriel e o convite de Deus que lhe trazia. Ao longo dos anos, este convite iria tornar-se muito, muito mais terno e mais detalhado. Por enquanto, apenas onze meses se haviam passado e ela deleitava-se em Deus ao entendê-lo assim:
“Miryam, tu me darias teu corpo, tua vida, tua carne e sangue, tua natureza humana para que meu Filho se torne homem?”
Dentro de alguns anos, no Shabbat que precederia a ressurreição, iria repassar toda sua vida e compreender o convite completo:
“Miryam, meu Filho disse ‘sim’ e espera o teu para tomar a natureza humana e salvar o homem. Tu me darias teu corpo para dele formar o do meu Filho? Tu me darias tuas mãos para que Ele abençoe as criancinhas e cure os enfermos? Tu me darias teus pulsos para que os dele sejam pregados na cruz? Tu me darias tuas pernas e pés para que Ele percorra todo Israel anunciando o Reino? Tu me darias tua boca para que a dele anuncie o meu amor? Tu me darias teu nariz para que Ele sinta o cheiro das vinhas maduras? Tu me darias tuas entranhas para que as dele sejam queimadas de dor ao sorver o cálice da minha ira? Tu me darias teus cabelos para que os dele sejam ensopados pelo sangue da coroa? Tu me darias teu coração para que o dele seja transpassado e dê aos homens até sua última gota de sangue? Tu me darias tua alma para ser transpassada a fim de que a dele receba de ti a primeira reparação e consolo humano? Tu me darias tua vida para que Ele possa dar nova vida ao homem? Tu me darias teu ser, tua humanidade, para que Ele leve a humanidade, em si próprio, de volta à Trindade? Tu me darias teus olhos para que os dele brilhem o meu amor e te vejam a ti, mais formosa das mulheres, escolhida dentre todas? Tu me darias tua alma para sofrer com a dele os sofrimentos de todo homem em favor da salvação de cada um dos meus filhos?”
Por enquanto, no que conseguia contemplar, Miryam compreendia com o coração que a humanidade do Filho vinha inteiramente da dela e que ambas estavam realmente unidas no selo divino e humano do amor eterno. Isso bastava para que sua alma se enchesse do júbilo dos grandes kairós de Deus repetindo seu “faça-se” a cada nova proposta de Deus, ainda que fosse a da espada a transpassar seu coração, ainda que fosse ver o filho sendo sinal de contradição, pedra de tropeço.
É Shabbat, o dia preferido de José e Maria. Têm mais tempo para fazer o que mais lhes delicia: contemplar, adorar seu Menino. No primeiro Shabbat depois da apresentação de Jesus, de volta da sinagoga, José tira uma soneca e Maria troca os panos do filho, atenta para que fique bem agasalhado. Ao enrolar-lhe os pés, algo, de repente, lhe chama a atenção. Maria sobe, depressa, o olhar para o rosto de Jesus e, com alegria indizível, percebe que, pela primeira vez, Ele a olha e a reconhece!
“Yeshuah?! Yeshuah?!… Ah, Yeshuah!!! Oh, Yeshuah!!! Yeshuah, você vê a mãezinha?! Você vê a mamãe!!!”
E Maria o beija, abraça e chora a alegria de toda mãe que, por mais anos que se passem, jamais esquece este primeiro rápido olhar de reconhecimento do filho. Tenta chamar-lhe atenção outra vez:
Yeshuah, olha a mamãe! Tua mamãe, Yeshuah! Está aqui tua mãezinha! Ma-mãe, Yeshuah!”
Novo olhar, novo choro, mas desta vez não mais como o de todas as mães. Ela agora tem certeza: seus olhos haviam encontrado os olhos do seu Deus!
“Miyram?!”, despertou José, “está tudo bem?”
Na alegria serena do Shabbat, Maria chama:
“Vem, José, vem! Olha! Ele me olhou, Ele me conhece! Ele me ama! Ele me olhou com olhar de filho! Como João olhou Elisabete! Não, não! Mais, mais do que João olhou Elisabete!! Vem ver, José, vem ver…” e, para Jesus, suave, procurando uma demonstração: “Yeshuah, olha para a mamãe, meu lindo, aqui, aqui, olha para tua mãezinha!”
Jesus volta o olhar para ela, atento, embevecido:
“É verdade! Ele a reconhece! Fixa nela o olhar atento!”, pensa José que, como todo pai, não quer perder a chance:
“E o abbá, olha para o abbá! Yeshuuuaaah! Olha para o abbá!”
Nada! Este primeiro olhar é sempre para as mães, as immi de todos os tempos, um presente de gratidão e reconhecimento que Deus colocou nas mãozinhas dos bebês para elas. José, um pouco decepcionado, aprende que, como todo pai, tem de esperar mais um pouco. Para vencer esta pequena tristeza, virtuoso que é, passa o indicador na bochecha de Jesus dizendo: “Está bem, Yeshuah, o abbá espera…”
Com o carinho do dedo de José, Jesus esboça aquele sorriso meio torto, mais característico de uma resposta ao estímulo que expressão de alegria. Maria, porém, não perde tempo em alegrar o seu José:
“José, Ele sorriu para você! Você viu? Ele sorriu! Faz de novo, faz de novo!”
Meio com medo do insucesso, José tenta novamente, com a mão, agora, trêmula. Jesus repete o “sorriso” e a alegria do Shabbat cria novo significado para os três de Deus.
Jesus dorme, cansado da brincadeira. A Mãe o deita sobre si, guardando aquele momento como um tesouro incomparável. Ele a conheceu! Ele a viu! Ele a reconheceu! Puderam comunicar-se, pela primeira vez, com o olhar.
Nem imaginava quantas vezes mais seus olhares se comunicariam! Bastaria um olhar dela para Jesus Menino saber o que lhe era ou não permitido fazer. Com um olhar profético de “por favor, faça alguma coisa”, a água se transformaria no melhor vinho farto. Um olhar e ambos compreenderiam que ela, além de Mãe, era discípula. Um outro, ainda, e ela entenderia que, além de discípula, era mãe.
Seus olhos partilhariam as duas maiores dores da paixão. Um último olhar e partilhariam a Igreja. Em ainda um olhar silencioso Ele a visitaria ressuscitado, para depois de algum tempo voltarem a olhar-se e Ele a atrair e levar para o Pai.
Feliz, a mãe acaba adormecendo, com seu Menino deitado sobre si, naquele jeitinho todo seu, mil vezes repetido, de passar o bracinho por trás do pescoço da Mãe, por baixo de seus cabelos, e enganchar os dedinhos nos fios da nuca.
Fonte:
http://www.comshalom.org/formacao/exibir.php?form_id=1006
ACESSE:EMANUEL ARAUJO CRISTAO=GARANHUNS
Maria Emmir Nogueira
A família de Yosseph Ben Yaaqov prepara-se para retornar a Nazaré. Alguns dias mais e estarão de volta. Maria deseja muito ir para sua casa, na qual havia passado tão pouco tempo. José pensa na carpintaria, no pequeno catre que pretende reformar assim que chegar. Afinal, segundo seu conceito, Yeshuah “já está enorme!”
Maria passa o tempo a cuidar do nenê, lavar suas roupas, tecer para Ele, ajudar a anfitriã nas tarefas de casa. Tem de admitir o que José e todos lhe dizem: o Menino parece-se muitíssimo com ela! Em seu rostinho, pode reconhecer o seu próprio nariz, seu queixo, sua boca, seus cabelos castanhos e finos, suas mãos longas, o formato das unhas das mãos e pés… A Mãe não sabe o que pensar. Claro, o Menino tinha de parecer com ela, pensava, às vezes. Logo depois, porém, perguntava-se:
“Mas não havia de parecer-se com Adhonay?”… “Segundo a Torah, todos não se pareciam com Ele, todos não seriam sua imagem e semelhança?” e logo voltava ao primeiro pensamento, sem pretender entender, mas incapaz de deixar de maravilhar-se com mais este mistério.
Veio-lhe à lembrança Gabriel e o convite de Deus que lhe trazia. Ao longo dos anos, este convite iria tornar-se muito, muito mais terno e mais detalhado. Por enquanto, apenas onze meses se haviam passado e ela deleitava-se em Deus ao entendê-lo assim:
“Miryam, tu me darias teu corpo, tua vida, tua carne e sangue, tua natureza humana para que meu Filho se torne homem?”
Dentro de alguns anos, no Shabbat que precederia a ressurreição, iria repassar toda sua vida e compreender o convite completo:
“Miryam, meu Filho disse ‘sim’ e espera o teu para tomar a natureza humana e salvar o homem. Tu me darias teu corpo para dele formar o do meu Filho? Tu me darias tuas mãos para que Ele abençoe as criancinhas e cure os enfermos? Tu me darias teus pulsos para que os dele sejam pregados na cruz? Tu me darias tuas pernas e pés para que Ele percorra todo Israel anunciando o Reino? Tu me darias tua boca para que a dele anuncie o meu amor? Tu me darias teu nariz para que Ele sinta o cheiro das vinhas maduras? Tu me darias tuas entranhas para que as dele sejam queimadas de dor ao sorver o cálice da minha ira? Tu me darias teus cabelos para que os dele sejam ensopados pelo sangue da coroa? Tu me darias teu coração para que o dele seja transpassado e dê aos homens até sua última gota de sangue? Tu me darias tua alma para ser transpassada a fim de que a dele receba de ti a primeira reparação e consolo humano? Tu me darias tua vida para que Ele possa dar nova vida ao homem? Tu me darias teu ser, tua humanidade, para que Ele leve a humanidade, em si próprio, de volta à Trindade? Tu me darias teus olhos para que os dele brilhem o meu amor e te vejam a ti, mais formosa das mulheres, escolhida dentre todas? Tu me darias tua alma para sofrer com a dele os sofrimentos de todo homem em favor da salvação de cada um dos meus filhos?”
Por enquanto, no que conseguia contemplar, Miryam compreendia com o coração que a humanidade do Filho vinha inteiramente da dela e que ambas estavam realmente unidas no selo divino e humano do amor eterno. Isso bastava para que sua alma se enchesse do júbilo dos grandes kairós de Deus repetindo seu “faça-se” a cada nova proposta de Deus, ainda que fosse a da espada a transpassar seu coração, ainda que fosse ver o filho sendo sinal de contradição, pedra de tropeço.
É Shabbat, o dia preferido de José e Maria. Têm mais tempo para fazer o que mais lhes delicia: contemplar, adorar seu Menino. No primeiro Shabbat depois da apresentação de Jesus, de volta da sinagoga, José tira uma soneca e Maria troca os panos do filho, atenta para que fique bem agasalhado. Ao enrolar-lhe os pés, algo, de repente, lhe chama a atenção. Maria sobe, depressa, o olhar para o rosto de Jesus e, com alegria indizível, percebe que, pela primeira vez, Ele a olha e a reconhece!
“Yeshuah?! Yeshuah?!… Ah, Yeshuah!!! Oh, Yeshuah!!! Yeshuah, você vê a mãezinha?! Você vê a mamãe!!!”
E Maria o beija, abraça e chora a alegria de toda mãe que, por mais anos que se passem, jamais esquece este primeiro rápido olhar de reconhecimento do filho. Tenta chamar-lhe atenção outra vez:
Yeshuah, olha a mamãe! Tua mamãe, Yeshuah! Está aqui tua mãezinha! Ma-mãe, Yeshuah!”
Novo olhar, novo choro, mas desta vez não mais como o de todas as mães. Ela agora tem certeza: seus olhos haviam encontrado os olhos do seu Deus!
“Miyram?!”, despertou José, “está tudo bem?”
Na alegria serena do Shabbat, Maria chama:
“Vem, José, vem! Olha! Ele me olhou, Ele me conhece! Ele me ama! Ele me olhou com olhar de filho! Como João olhou Elisabete! Não, não! Mais, mais do que João olhou Elisabete!! Vem ver, José, vem ver…” e, para Jesus, suave, procurando uma demonstração: “Yeshuah, olha para a mamãe, meu lindo, aqui, aqui, olha para tua mãezinha!”
Jesus volta o olhar para ela, atento, embevecido:
“É verdade! Ele a reconhece! Fixa nela o olhar atento!”, pensa José que, como todo pai, não quer perder a chance:
“E o abbá, olha para o abbá! Yeshuuuaaah! Olha para o abbá!”
Nada! Este primeiro olhar é sempre para as mães, as immi de todos os tempos, um presente de gratidão e reconhecimento que Deus colocou nas mãozinhas dos bebês para elas. José, um pouco decepcionado, aprende que, como todo pai, tem de esperar mais um pouco. Para vencer esta pequena tristeza, virtuoso que é, passa o indicador na bochecha de Jesus dizendo: “Está bem, Yeshuah, o abbá espera…”
Com o carinho do dedo de José, Jesus esboça aquele sorriso meio torto, mais característico de uma resposta ao estímulo que expressão de alegria. Maria, porém, não perde tempo em alegrar o seu José:
“José, Ele sorriu para você! Você viu? Ele sorriu! Faz de novo, faz de novo!”
Meio com medo do insucesso, José tenta novamente, com a mão, agora, trêmula. Jesus repete o “sorriso” e a alegria do Shabbat cria novo significado para os três de Deus.
Jesus dorme, cansado da brincadeira. A Mãe o deita sobre si, guardando aquele momento como um tesouro incomparável. Ele a conheceu! Ele a viu! Ele a reconheceu! Puderam comunicar-se, pela primeira vez, com o olhar.
Nem imaginava quantas vezes mais seus olhares se comunicariam! Bastaria um olhar dela para Jesus Menino saber o que lhe era ou não permitido fazer. Com um olhar profético de “por favor, faça alguma coisa”, a água se transformaria no melhor vinho farto. Um olhar e ambos compreenderiam que ela, além de Mãe, era discípula. Um outro, ainda, e ela entenderia que, além de discípula, era mãe.
Seus olhos partilhariam as duas maiores dores da paixão. Um último olhar e partilhariam a Igreja. Em ainda um olhar silencioso Ele a visitaria ressuscitado, para depois de algum tempo voltarem a olhar-se e Ele a atrair e levar para o Pai.
Feliz, a mãe acaba adormecendo, com seu Menino deitado sobre si, naquele jeitinho todo seu, mil vezes repetido, de passar o bracinho por trás do pescoço da Mãe, por baixo de seus cabelos, e enganchar os dedinhos nos fios da nuca.
Fonte:
http://www.comshalom.org/formacao/exibir.php?form_id=1006
ACESSE:EMANUEL ARAUJO CRISTAO=GARANHUNS
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