O homem piedoso manifesta seu amor altruísta a Deus
Postado por: homilia
junho 18th, 2012
Estamos diante da lei do Talião: “Ouvistes o que
foi dito: olho por olho, dente por dente”, embora, à primeira vista, esta lei
pareça alimentar um sentimento de vingança, ela justamente deseja frear um
ímpeto de vingança individual.
Vivemos numa época caracterizada pela
ilegalidade, mal que tem invadido nossa sociedade a um grau imprevisto e sem
precedentes. Os que fazem da lei a sua profissão estão sendo convocados para
repensar o propósito desse conjunto de regras na sociedade. Em nossos dias o
indivíduo exige o direito de agir como bem entender, manifestando pouca ou
nenhuma consideração ao efeito de seus atos sobre o outro.
Encontramos esse princípio em todo o Novo
Testamento. Vejamos o que Paulo diz: “O amor seja sem hipocrisia. Detestai o
mal, apegando-vos ao bem. Amai-vos cordialmente uns aos outros com amor
fraternal, preferindo-vos em honra uns aos outros” (Romanos 12,9-10). O justo
manifesta amor, que é atencioso e altruísta. Como se revela esse sentimento?
São Paulo declarou: “Abençoai aos que vos
perseguem, abençoai, e não amaldiçoeis. Alegrai-vos com os que se alegram, e
chorai com os que choram”. “Não vos vingueis a vós mesmos, amados [não vos
apegueis a vossos direitos, não demandeis pelo que vos é devido], mas dai lugar
à ira; porque está escrito: A mim me pertence a vingança; eu retribuirei, diz o
Senhor”. Se for cometido algum erro, o entregue ao Senhor. Não se vingue, não
busque seus próprios direitos. “Se o teu inimigo tiver fome, dá-lhe de comer; se
tiver sede, dá-lhe de beber; porque, fazendo isto, amontoarás brasas vivas sobre
a sua cabeça. Não te deixes vencer do mal, mas vence o mal com o bem”.
O apóstolo dos gentios mostrou-nos o que Nosso Senhor afirmou no capítulo 5
de Mateus: A pessoa tem direitos. Seus direitos foram violados. Ela pode exigir
indenização. Mas o justo deixa esse problema com Deus, e demonstra amor e perdão
até mesmo aos seus inimigos. Isso é justiça em ação.
Paulo menciona de novo este mesmo princípio em I
Coríntios 6. Aqui ele luta com o problema de um crente recorrer ao tribunal
contra outro crente para cobrar o que de direito lhe pertence. Certo homem
insistia em seus próprios direitos, e o apóstolo criticou o descrédito que esse
testemunho trazia ao mundo incrédulo: “Por que não sofreis antes a injustiça?
Por que não sofreis antes o dano?” O apóstolo nos ensinou que o sinal do homem
piedoso é abrir mão de seus direitos para que possa manifestar o amor altruísta
de Cristo.
O amor não pratica o mal contra o próximo; de sorte que o cumprimento da lei é o amor”, diz o apóstolo Paulo em Romanos 13,10.
A lei nos dá direitos, mas também nos dá a liberdade de renunciar a eles, e
assim manifestar a justiça de Cristo. Temos nossos direitos, e a Palavra de Deus
os protege. Temos, também, a liberdade de renunciar a eles para demonstrar o
amor de Cristo. Não é a demanda por seus direitos que caracteriza o justo, mas
sim o desistir deles, em prol de um bem maior. Esse homem agrada a Deus.O amor não pratica o mal contra o próximo; de sorte que o cumprimento da lei é o amor”, diz o apóstolo Paulo em Romanos 13,10.
Jesus, no Evangelho de hoje, com palavras, vai
progressivamente nos conduzindo a ultrapassar essa lei. Fazendo-nos reconhecer o
valor do não revidar: oferecer a outra face; deixar também o manto; caminhar com
ele dois mil passos. Cristo apresenta uma referência baseada não na lei da
justiça judaica, isto é, o que é devido a cada um, mas na lei da graça e do
amor. “Ouvistes o que foi dito: ‘Olho por olho e dente por dente!’ Eu, porém,
vos digo: Não enfrenteis quem é malvado! Pelo contrário, se alguém te dá uma
tapa na face direita, oferece-lhe também à esquerda! Se alguém quiser abrir um
processo para tomar a tua túnica, dá-lhe também o manto! Se alguém te forçar a
andar um quilômetro, caminha dois com ele! Dá a quem te pedir e não vires às
costas a quem te pede emprestado”.
Desta maneira, Ele nos leva ao mandamento
da caridade, não só para melhor compreendê-lo, mas também como concretamente
vivê-lo. O Senhor nos ordena a dar a todos tudo o que eles nos pedem:
que todos sejam cumulados, por nossa generosidade, de tudo o que lhes falta.
Façamos tudo ao nosso alcance de modo que eles
não sofram nem de sede, nem de fome, nem da falta de vestes. E então, seremos
considerados dignos de obter os bens que nos faltam e que pedimos a Deus, pois o
costume de dar nos merecerá obtê-los. Ademais, há mais alegria em dar do que em
receber.
É urgente que aos nossos ouvidos soem as palavras
de Jesus: vencer o mal com o bem, e tornar concreto em nosso agir o mandamento
do amor fraterno.
Peçamos ao Senhor que encha nossos corações com
as graças do Seu Espírito Santo; com amor, alegria, paz, paciência, bondade e
humildade. E nos ensine a amar os que nos odeiam; a rezar pelos que nos
perseguem. E com o Seu auxílio, a renunciar aos prazeres deste mundo e a desejar
uma nova terra e novos céus.
Pai, não permita que a violência tome conta do
meu coração; antes, torna-me capaz de responder, com gestos de amor, a quem me
faz o mal.
Padre Bantu Mendonça
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