terça-feira, 29 de novembro de 2011

Padre Zezinho e o ecumenismo cultural

A proliferação de padres cantores teve Marcelo Rossi como figura inspiradora. Nos últimos quinze anos eles alcançaram grande popularidade entre os católicos e apareceram na mídia como se fossem verdadeiras estrelas da música pop. Lideraram paradas de sucesso, lançaram livros e outros produtos nos quais exploravam ao máximo a própria imagem. Por outro lado, um padre discreto faz o mesmo há 45 anos, porém jamais alcançou sucesso estrondoso, pois até hoje nega-se a utilizar a mídia como trampolim para aparecer a qualquer custo. Trata-se de Padre Zezinho, scj, que já lançou mais de 120 discos e quase uma centena de livros. Esse prolífico religioso não faz o tipo vaidoso, tão comum entre certos missionários do engodo que atuam pelo Brasil. Sua postura é acadêmica. Professor universitário da área de comunicação, é um dos mais emblemáticos pensadores brasileiros contemporâneos nas áreas de teologia, psicologia, sociologia, filosofia e política. Seus textos são peças fundamentais para debates variados não só entre estudantes de jornalismo, mas também em círculos ecumênicos. A vida profissional de Zezinho é intensa. Ele divide seu tempo entre missas, shows, apresentações de programas de rádio e TV, aulas em universidades, gerenciamento de uma editora/gravadora e obras sociais no Brasil e em outros países da América Latina e África. Recentemente, teve sua obra reconhecida através de uma homenagem da cantora Joanna, que gravou um disco só com músicas suas. Nesse ano, Zezinho também lançou um disco para comemorar seus 45 anos de atuação. O momento é de celebração, mas o padre não se acomoda. Pretende lançar mais um disco e dois livros ainda esse ano. Abaixo, ele comenta seus próximos projetos, mas não deixa de abordar assuntos como política, ateísmo e o papel da mídia na sociedade moderna. (Por Helder Maldonado) SUCESSO e-mailing – O senhor é inquieto e produz muito e em diversas áreas de atuação. Como consegue conciliar seu tempo? Padre Zezinho – Exerço dezenas de atividades simultâneas, porque uma é interligada à outra. Sou professor de comunicação, escritor (com mais de 85 títulos publicados), cantor (com 120 discos lançados), apresento programas de rádio e TV, dou aulas de Comunicação na igreja, produzo revistas, formo locutores, enfim, sou um descobridor de talentos. Leio e me atualizo muito. Por mês, leio cinco livros. Assim, aparecem ideias, que viram artigos, canções, mensagens no Twitter ou no meu blog. Em comunicação temos a possibilidade de armazenar o que captamos e reutilizar em diversas finalidades. Tenho uma mente muito organizada e sei colocar na devida “pasta” tudo aquilo que assimilo. Na hora de retirar, sei em que “pasta” está. SUCESSO e-mailing – Seu cotidiano é intenso, então? Padre Zezinho – Acordo às seis da manhã. Faço minhas leituras, porque durante o dia é mais complicado. Quando sobra tempo, anoto minhas meditações e digito ou gravo tudo. Depois, atendo as demandas das igrejas que solicitam a minha presença. À tarde, arranjo ainda um tempo para organizar artigos e coordenar equipes. Quatro pessoas digitam para mim, outras revisam e outras publicam os textos em meu site duas vezes por semana. Além disso, oriento quem está ligado a mim em algum trabalho. Me ocupo das seis da manhã até às 23h. Sou um homem de estudos e levo uma vida acadêmica muito séria. Jamais abandonei os livros, desde que terminei a faculdade. São eles que me alimentam para a criatividade e para que eu não me torne alguém repetitivo. Esse é o grande risco para compositores e escritores que não lêem. Eu fujo da mesmice passando por livrarias e adquirindo três ou quatro livros por mês de temas como Psicologia, Antropologia, Sociologia, Filosofia, Pedagogia, História e Teologia. SUCESSO e-mailing – Atualmente quais títulos e autores mais te agradam? Padre Zezinho – Hoje em dia, estou lendo e recomendo para quem trabalha com comunicação o escritor Jean Baudrillard. Ele escreve muito sobre comunicação em massa. O melhor trabalho dele é “A Transparência do Mal”. Recomendo também “Eros e Civilização”, de Hebert Marcuse. Karen Armstrong é historiadora das religiões e como base para o trabalho ecumênico é ótimo. Também recomendo Zigmund Baulman, que é um sociólogo que aborda a vida líquida e o amor líquido e o problema do pensamento que perdeu solidez no nosso tempo. Também estou lendo sobre análise da filosofia da história. Todos eles, após serem lidos e resumidos, são passados adiante e recomendados aos amigos. Para mim, são fontes de reflexões sólidas, porque me apoio em filósofos, sociólogos e teólogos para fazer meu trabalho. Minha canção pode ser simples, mas ela é fundamentada. SUCESSO e-mailing – Além das letras, seus arranjos musicais mudam muito de um CD para o outro. Quais são suas fontes de pesquisa nesse campo? Padre Zezinho – Eu compro CDs de vários lugares do mundo e presto atenção na orquestração. Depois, sugiro para os três maestros que trabalham comigo criar em cima de algumas ideias, jamais copiar. Os instrumentos que usamos dão novas roupagens na música e enriquecem a minha música. Sou compositor de melodias e de letras. Mas em relação a ritmos, composições de sons, intervalos, interlúdios, deixo para os maestros, que são muito competentes. SUCESSO e-mailing – Como o público secular recebe seu trabalho? Há resistência? Padre Zezinho – Comigo, não. Morei nos Estados Unidos cinco anos e me inspirei muito no blues e gospel. A músicas grega, russa e judaica também têm influência da religião e são fontes de inspiração para o meu trabalho. Minha música é brasileira e internacional. Por isso, meus arranjos variam tanto. Minha música deve chegar primeiro aos católicos. Aqui e acolá, surgem alguns evangélicos que gostam do meu trabalho. “Oração Pela Família” é cantada por eles. Mas eu também me inspiro na música evangélica. A música é a arte mais clara e direta para praticar ecumenismo. O púlpito nos separa e a música nos une. Acredito muito mais na mensagem dos músicos do que dos pregadores. Aposto nessa arte como forma de dialogar, tanto na política como na religião. Uma música de rock pode me aproximar dos jovens, um gospel dos evangélicos e uma música politizada pode me aproximar da esquerda ou de grupos militantes. Através disso, levo-os a refletir. Minha música é para mexer com a razão, não com o coração. Trabalho muito a linha da Psicologia positiva, que é uma corrente para descobrir o talento da pessoa e fazê-la refletir sobre isso. Minha música é fortemente filosófica, sociológica, antropológica e teológica, embora seja simples. Como quando escrevo que “Não é justo e é pecado ter demais como tu tens. Se trabalhas quase nada e sacia-te de bens. E o irmão que se consome e trabalha muito mais. Passa os dias tendo fome, quando outros têm demais”. SUCESSO e-mailing – As pessoas que acompanham seu trabalho conseguem colocar esses pensamentos em prática? Padre Zezinho – O fato de meus discos estarem sendo lançados ininterruptamente nos últimos 45 anos prova que existe um grupo de pessoas que comunga do meu jeito de pensar. Recentemente, terminei de escrever dois catecismos de seiscentas páginas cada um. E as edições sempre se renovam. Tudo isso me dá ânimo para prosseguir. Mas meu trabalho não tem grande impacto, pois nunca procurei assinar com grandes gravadoras ou editoras. É uma escolha pessoal. Porque convite houve e há até hoje. Quero trabalhar como esponja, que vai embebendo aos poucos e como uma pequena formiga, que leva o pedaço que pode carregar da folha até o formigueiro. Brinco dizendo que a mídia é um cavalo chucro. Se você monta nela e não é bom peão, não fica nem oito segundos em cima dela. Se você é bom peão, dá para escolher em qual mídia montar. Se eu tivesse escolhido montar na gigantesca mídia do mundo, talvez eu não estivesse mais aqui, porque você pode não ter o que oferecer a ela a todo tempo. É como um foguete que sobe e desce. Eu escolhi o processo pedagógico lento como amadurecimento. É como uma árvore que não dá fruto na hora, porque tem que crescer primeiro. SUCESSO e-mailing – Por isso demora tanto tempo para gravar certas músicas? Padre Zezinho – Minhas canções são assim. Algumas eu guardei durante 15 anos, só depois editei. Livros demoraram 16 anos para sair. Eu posso até lançar três CDs num ano, mas eles são planejados com antecedência. O último disco, “Quando Deus se Calou” tem músicas criadas há nove anos na Europa, inspiradas em Santa Teresa d’Ávila. O padeiro faz a massa, mas deixa ela fermentar antes de colocar o pão no forno. Eu também. Faço experiências em shows, cedo para alguns grupos. Se os testes forem favoráveis, então gravo as canções. Sou científico não só nos escritos, mas também nas composições. Quero que a mensagem seja maior que o mensageiro. É um conceito de comunicação que foge ao imediatismo e por isso não atinjo milhões de pessoas. Mas atingindo 100, 200 mil, já é suficiente. Nem saberia como segurar a barra se fosse diferente. Algumas canções alcançaram sucesso maior, como “Oração Pela Família”, “Utopia”, “Maria de Nazaré” e “Um Certo Galileu”. Jamais iria a vinte programas de televisão num ano para divulgar um CD. SUCESSO e-mailing – Você tem algo contra aparecer em programas de TV? Padre Zezinho – Não tenho nada contra a TV, mas eu escolhi este processo pedagógico paulatino. Eu conto com o tempo para a música chegar ao povo. Quem quer correr o risco de ir em todos os programas de TV e se apoiar no excesso de exposição, não tem problema. Mídia e holofote. Se você souber a hora e o tempo que vai se expor, sai de lá bronzeado. Se você se expuser demais e desconhecer qual fator de protetor usar, sai de lá chamuscado e provavelmente até com problemas e ferimentos graves. É preciso saber até que ponto se expor, pois a mídia queima quem se expoe demais. Eu me exponho até de menos. É uma escolha minha. Quero andar na rua sem precisar de guarda costas. Quero andar no aeroporto sem ninguém avançar em mim. Sou conhecido, mas não virei mito. Não permiti que o marketing primeiro vendesse meu rosto e só depois minha arte. Estou prestes a entregar um livro para uma editora e a primeira exigência que fiz é: não quero meu rosto na capa. Se quiser, pode colocar na orelha do livro, pois não quero expor meu rosto e fazer o mensageiro ficar maior que a mensagem. Se meu livro não vender pelo conteúdo, não merece ser lido. É um conceito meu. Estou na mídia sem fazer média. SUCESSO e-mailing – Levando em conta o conceito de que o mensageiro não deve ser maior do que a mensagem, você provavelmente discorda da exposição exacerbada de imagens religiosas? Padre Zezinho – Discordo mesmo. Imagem de santo tem lugar e hora para ser relembrada, assim como a do papa, de pastor, do músico, do cantor e do escritor. Não pode ser onipresente. É importante ilustrar uma história. Em determinado momento, imagens fazem sentido. Se aparecer toda hora, perde o sentido. Se não, vira idolatria. Mas se bem usada pode ser pedagógica. É que nem um fósforo. É possível utilizá-lo para acender velas ou tocar fogo numa casa. Uma faca pode ser enfiada na barriga de alguém ou para descascar laranja. Se você souber fazer bom uso de tudo, não tem problema utilizar. SUCESSO e-mailing – Você continua a revelar grandes cantores em seus shows? Padre Zezinho – Eu sou padre. Se eu puder colocar um bom cantor ao meu lado em um show, coloco. Ser padre não faz de mim um bom cantor. Se for o caso, eu canto. Se não, prefiro que os profissionais do ramo o façam. Eu não abuso do fato de ser padre. E sei que não sou desafinado. Canto bem. Nem por isso, tenho direito de ocupar o espaço de alguém melhor que eu. Por isso, vou lá e prego e só canto seis ou sete canções num repertório de 30. Meu show é assim. Algumas pessoas dizem que canto pouco, mas coloco bons cantores e músicos ao meu lado. Ao meu lado literalmente, pois minha banda nunca tocou atrás de mim. Todas as bandas que trabalharam comigo, usam seu próprio nome. Eles são artistas e merecem reconhecimento. Sabem tocar e eu sei pregar. Juntos, formamos um bom time. SUCESSO e-mailing - Você dá conselhos a outros padres cantores? Padre Zezinho – Respeito todos que dão a cara para bater, pois acreditam no que fazem. E muitos realizam tudo com sofrimento. Quando posso, já que sou o mais antigo, dou conselhos. Se ele vai a um programa de TV sem estar preparado, critico. Conto a história dos três helicópteros que caíram dentro de dois meses, fenômeno no qual a culpa foi de pilotos não habilitados. Nós não devemos ir à televisão se não dominamos determinado tema. Excesso de exposição prejudica a igreja. Mas se ele for de vez em quando e preparado para o tema, tudo bem. Não sou ícone de pendurar na parede, pois ainda atuo. SUCESSO e-mailing – O censo prevê um aumento considerável no número de pessoas que migrarão para as religiões evangélicas nos próximos nove anos. Qual sua opinião sobre isso, já que esse fator tende a forçar uma diminuição no número de católicos? Padre Zezinho – Acho perfeitamente normal. O grande número de pessoas que se diziam católicas, não eram convictas, “praticantes”. Se nos últimos trinta anos, diminuímos de 94 para 68% de católicos, é um pouco de culpa da mídia, já que os evangélicos estão mais na TV do que os católicos. E as pessoas são influenciáveis. Se alguém é católico por convicção, nunca vai deixar o catolicismo. Qualquer grupo sofre desgaste. A Igreja Universal do Reino de Deus perdeu 24% dos seus adeptos nos últimos dez anos. Porcentagem maior do que a da igreja católica. E não tem 40 anos de fundação. E a católica, que tem pelo menos 1,7 mil anos desde sua organização, sofre um desgaste natural mesmo. Igual na Europa. Na América Latina, há países em que ela cresce. Números não me preocupam. O Papa Bento XVI diz em seu livro: “quando me conste a qualidade de um crente é que é importante. E pelo que eu saiba, a igreja não se rege pelas estatísticas. Ter templos cheios não é a mesma coisa que ter gente bem preparada com fé”. Trabalho muito na formação do cristão. Isso independe do número de pessoas que me procurarem. Não me preocupo com essas estatísticas, porque da mesma forma que o evangelismo cresce, suas igrejas se desmembram. SUCESSO e-mailing – Como o senhor analisa as facilidades para se abrir igrejas no Brasil? Padre Zezinho – Fundar igreja é a coisa mias fácil no Brasil, mas muitas não têm unidade de pensamento e pregação. Casar também é fácil. O difícil é manter. E o desafio da catequese é esse: dei a palavra, cumpro até o fim. SUCESSO e-mailing – Então, isso quer dizer que muitas dessas igrejas não terão vida longa? Padre Zezinho – Elas estão em alta por conta do impacto do marketing. Depois que o produto cansa, eles invetam um novo. Como professor de comunicação há trinta anos, alerto meus alunos para perceber que o hoje o mundo está apoiado em assuntos da hora e não na verdade. As pessoas correm para o mais novo pregador e daqui há dez anos, acham outro. A novidade está mais valorizada que a verdade. É sempre uma maneira nova de dizer a mesma coisa. SUCESSO e-mailing – Mas isso não se aplica a todos os segmentos da igreja protestante, correto? Padre Zezinho – Claro que não. Os luteranos são muito sérios. Os batistas, metodistas e outras igrejas também. Muitos segmentos tem solidez em seus conteúdos, enquanto outras se baseiam em um pregador. Muitas vezes, não há nem um corpo de doutrinas. E isso acontece também na igreja católica. Nessa religião, encontra-se padres com formação universitária e outros que mexem mais com o sentimento das pessoas e sem solidez de doutrinas. O fiel precisa escolher se prefere pessoas com substantivos ou com adjetivos que mudam a cada momento. Existem verdades que não precisam de adjetivos. Deus não precisa de adjetivo. Uma pessoa com conteúdo também. Mahatma Gandhi, João Paulo II, Bento XVI, Teresa de Calcutá, Irmão Dulce são pessoas de conteúdo. Muitas pessoas pregam palavras sobre Deus e não a palavra de Deus. É possível dar 20 livros para alguns pregadores, e sair sempre o mesmo sermão. Enquanto, com apenas um livro, alguns criam 20 sermões diferentes. SUCESSO e-mailing – Muitas pessoas cometem atos de insanidade e preconceito em nome da doutrina cristão. Isso mancha a imagem da igreja? Padre Zezinho – Vou dizer uma frase que resume bem o assunto: Jesus é certamente o nome mais pronunciado e anunciado no Ocidente. Mas também é o mais deturpado. Qualquer um pode dizer várias coisas sobre Jesus, mas poucos conseguem provar. Citar Jesus com profundidade é só para quem realmente meditou e estudou. SUCESSO e-mailing – O senhor lê autores ateus? Padre Zezinho – Livros de ateus como Carl Sagan, Daniel Dennet, Christopher Hitchens foram escritos para provocar os crentes. Mas é que esses ateus já foram provocados antes pelos crentes. Normal se defender. Em Daniel Dennet e em Carl Sagan, há o respeito pelos religiosos cultos e preparados. Se o ateu e o crente forem sensatos, um grande diálogo pode nascer. Se forem agressivos e insensatos, haverá guerra. Alguns negam o ateísmo e o cristianismo como ciências. Uma frase que me marca é de Carl Sagan, que diz: “O fato de eu não crer em Deus, não quer dizer que ele não exista”. Isso resume o ateísmo sério. Um religioso deveria pensar da mesma forma. Eu posso dizer que Deus existe, mas só se puder provar. O Sagan provou com a vida que era um homem sério. Um pregador também precisa agir assim. SUCESSO e-mailing – Comparado a outros padres, o senhor cobra um cachê irrisório e ainda assim destina parte dessa verba a obras sociais. Padre Zezinho – Parte do cachê é destinado à minha congregação, que tem 35 obras sociais no Brasil e em países de missão, como Paraguai, Congo, Zaire, Moçambique e Angola. Quem determina o preço do meu cachê é meu superior. El é quem diz: “neste ano, você pode cobrar ‘x’, mas negocie”. Se a comunidade é muito pobre, às vezes vou de graça. Em outras oportunidades, cobro somente o suficiente para pagar meus músicos. Mas se a cidade é rica, não vejo motivo para não cobrar cachê integral. No momento, cobro de R$ 15 a 20 mil reais por um show, que tem sido suficiente para ajudar minhas obras. Não me sentiria bem se soubesse que levei mais do que merecia. Posso até cobrar mais por um show, mas só se eu tiver uma equipe ou banda maior. SUCESSO e-mailing – Joanna recém lançou um disco que resgata sua obra. Qual a importância de seu cancioneiro ser gravado na voz de uma cantora popular? Padre Zezinho – Mais de 40 cantores já gravaram músicas minhas. No mínimo, seis ou sete cantores já gravaram discos inteiros. Mas Joanna deu uma impostação musical criativa e eu fiquei plenamente satisfeito com o resultado. Ela é talentosa e o projeto ficou criativo e com alma nos arranjos e textos. Ela superou minhas interpretações. Aí que notamos a diferença de um cantor para um grande cantor. SUCESSO e-mailing – Nesse ano você ainda lança algum livro ou disco? Padre Zezinho – As Cantoras de Deus vão lançar um disco em que eu participo. O livro “Melhores Filhos, Melhores Pais” sairá até dezembro em parceria entre as editoras Paulinas e Universo dos Livros. Até o fim do ano, também pretendo lançar o livro ecumênico “Meu Irmão Crê Diferente”. Ainda penso em gravar um disco contemplativo, na linha de pensamento de João Batista e Teresa d’Ávila. Hoje em dia, o mundo anda tão barulhento, que as pessoas não têm tempo para sentar numa poltrona e ouvir mensagens que as façam descansar e repousar em Deus. SUCESSO e-mailing – Acredita que a música se tornou pano de fundo para outras atividades? Padre Zezinho – Quero que as pessoas durmam ouvindo minha música. E isso não é pejorativo, já que será o direcionamento do trabalho. Quando quero, também componho músicas agitadas. SUCESSO e-mailing – Existe a possibilidade de sua vasta discografia ser relançada? Padre Zezinho – A Paulinas colocou boa parte no mercado e todos os trabalhos estão disponíveis no meu site. Em breve, colocarei as letras lá. As letras também sairão em um livro dividido por temas: política, social, espiritual, ecumenismo, Maria, Jesus e Santos. SUCESSO e-mailing – Em época de eleições, políticos se aproximam das igrejas, se comprometendo com linhas de pensamento que não concordam. Como o senhor analisa essa falsa aproximação? Padre Zezinho – Sou uma pessoa bastante fiel. Sou padre há 45 anos e meu discurso é o da igreja. Não mudo para agradar ninguém. Se alguém quiser me chamar de conservador, pode. Lutar pelo feto é conservadorismo, mas um bom conservadorismo. Lutar pelo direito de matar um feto é ser implodidor. A mídia e as universidades passaram a ideia de que o mundo se divide entre conservadores e progressistas, esquerda e direita. O mundo não se divide assim. Se divide em muitos outros modos de pensa e ser. Entre São Paulo e Rio, existem ao menos 30 cidades. Não é certo polarizar, pois isso é ignorância. Eu prego o solidarismo, que é uma maneira de administrar os bens e distribui-los. Quando político se adapta para ganhar votos, está agindo errado. O pregador também. Isso é um retrato da era fractal, como anunciou Jean Baudrillard. Segundo ele, as pessoas pegam trechos que as interessam e desenvolvem a vida em cima daquilo. Para ganhar votos, muitos se alinham ao que não concordam. Ou a pessoa é plena ou fragmentada. Não condeno nenhum candidato pelos seus valores. Mas se é para falar de princípios, diria que merece mais crédito aquele que é transversal e que não muda sua proposta. Toda pessoa tangencial é perigosa, porque só escolhe o que lhe interessa. Cada escolha tem um preço a pagar. Eu, por ser padre e celibatário, não posso frequentar boates, assistir filmes eróticos, entre outras coisas. Porque estaria negando minha essência. Pessoas casadas também devem se resguardar e mudar certos hábitos. É o preço a se pagar por determinadas escolhas. SUCESSO e-mailing – Isso se aplica também na questão do direcionamento sexual, não? Padre Zezinho – Claro. Eu sempre digo aos homossexuais, que ao fazer a escolha de seguir esse direcionamento, são obrigados a aceitar os questionamentos que a cercam. Muitos gays querem ter o direito de questionar a sociedade, mas não permitem o questionamento. Isso se aplica a ateus, evangélicos e católicos também. Uma pessoa pode me atacar durante 15 minutos, mas terá que aguentar minha defesa pelo mesmo tempo. Se me interromper, vou embora. Sou sério. Quero diálogo. SUCESSO e-mailing – Mas esse comportamento escapista é típico do brasileiro. Ele foge de diálogos e discussões. Padre Zezinho – O brasileiro adora ser provocador, mas ao ser questionado, fica bravo. Um cara quis dar de engraçadinho numa padaria, falando que padres são pedófilos, e eu perguntei se ele queria dialogar ou brigar. Na calma, expliquei a história da igreja. Quando acabou os quinze minutos, continuamos por três horas. Ficamos amigos e ele se desculpou pelo achincalhe. Foi um comportamento exemplar da parte dele. Pena que o mesmo padrão de conversa não pode ser aplicado entre fanáticos políticos, esportivos e de outros segmentos. Não somos educados para o diálogo. Quero o direito de discordar, sem cair em discórdia. SUCESSO e-mailing – Você ainda é militante do PT? Padre Zezinho – Hoje sou um sério adversário da banda podre do PT. Bandas podres precisam ser combatidas. O PT como um todo não é ruim. Tem muita gente boa lá dentro. SUCESSO e-mailing – Quem você continua admirando no partido? Padre Zezinho – Por mais que eu discorde deles, admiro o Eduardo Suplicy, Tião Vianna e mais uns 15 ou 20 que são confiáveis. Entre os que saíram, admiro muito Erundina, Bete Mendes, Helio Bicudo e muita gente boa que foi expulsa do PT porque era correto. A banda podre do PT superou a parte do boa. Hoje, não defendo mais o partido. O PSDB também é parecido. Temos bons políticos, só que eles não têm força. A banda podre se instalou pelo Brasil. SUCESSO e-mailing – Sendo professor de comunicação, como você enxerga o jornalismo nacional atual? Padre Zezinho – Temos um dos melhores jornalismo do mundo, tanto de pesquisa como de opinião. Prefiro que exista uma mídia que discorde de mim, do que uma mídia subserviente. Se não mentir, está ótimo.

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