Em PE, diretores da 'Paixão' buscam diferencial através dos detalhes
Parceria de Carlos Reis e Lúcio Lombardi já dura 16 anos.
Eles comentam desafios, imprevistos e dublagem do espetáculo.EMANUEL ARAUJO CRISTAO GARANHUNS
4 comentários
Como fazer um espetáculo novo, ano após ano, usando a mesma história e o mesmo texto? Esse é o desafio que os diretores Carlos Reis e Lúcio Lombardi enfrentam há 16 anos, desde que assumiram a Paixão de Cristo de Nova Jerusalém, encenada na cidade-teatro emFazenda Nova, no Brejo da Madre de Deus, Agreste de Pernambuco. A cada temporada, eles buscam, através de pequenos detalhes, encantar cada vez mais o público que se dirige para assistir ao espetáculo.
Sócio-fundador da Sociedade Teatral de Fazenda Nova (STFN), Carlos acompanhou de perto a construção da cidade-teatro e a evolução da peça, além da luta de Plínio e Diva Pacheco para realizar o sonho. “Entrei em 1960 e nunca mais me afastei. Eu sou testemunha do quanto eles sofreram para construir isso aqui”, conta o diretor, que lembra ser a Paixão, antes de mais nada, um espetáculo de teatro. “É uma história conhecida, mas aqui é teatro. A luz, o texto, roupa, cada detalhe tem a finalidade de emocionar o público”, afirma Carlos.
Lidar com uma montagem como a da Paixão de Nova Jerusalém, acredita Lúcio, é uma tarefa mortal para um diretor. “É um texto que não tem surpresas para o público. Quando você vê um filme, uma novela, você quer saber o final. Aqui, você sabe que o artista morre no final e ressuscita. Além do nosso papel como diretor e do trabalho dos atores, acredito que a questão da religião motiva as pessoas a virem. No teatro grego, as pessoas também conheciam as histórias, mas iam, porque as peças falavam dos deuses”, pondera Lúcio.
Desde que assumiram, os diretores viram um grande número de atores se revezar em papéis cruciais da peça. “Quando a gente chamou o Fábio Assunção, não imaginávamos que íamos trocar a cada ano, pensávamos que seria sempre ele, mas a vida prega peças. Já tivemos 56 atores de fora nos últimos anos. No início, era um pouco difícil para nós”, lembra Lúcio.
A cada ensaio e apresentação, os diretores assistem a toda a peça, observando o que pode ser melhorado e fazem um relatório. Lúcio anda sempre com seu caderninho; Carlos guarda tudo na cabeça. “Nunca entrei em uma peça, tendo tido tempo para ensaiar e estudar o texto, sem saber as minhas falas e a dos outros. Acredito que sempre tive boa memória. Quando estava fazendo teatro nos anos 1960 e 70, cheguei a conseguir substituir um colega, ensaiando apenas um dia”, conta Carlos, mas ressaltando que é ‘apenas um detalhe’ a boa memória.
Os pequenos ajustes que fazem a diferença de um ano para o outro por vezes são encontrados no texto original da peça, explica Lúcio. “Quando Plínio escreveu, a peça tinha quatro horas, era encenada em dois dias. O próprio Plínio reduziu depois para duas horas de texto, porque era complicado as pessoas irem para casa e voltarem no dia seguinte para assistir”, diz o diretor, ressaltando que, embora seja uma história conhecida, a peça é uma ficção.
Um dos exemplos em que o antigo texto veio à tona foi no aumento do número de falas de Maria Madalena ao longo da peça. Durante a Via Crucis, ela questiona Jesus quem vai olhar por elas. “Essa é uma parte que estava no texto de Plínio. As mulheres das lamentações não só choravam no texto original, elas falavam. Nós juntamos essas falas e deixamos para Maria Madalena, tem tudo a ver com ela. Outro trecho está no final, quando ela anuncia que Jesus está vivo e indo para a Galileia, é um poema lindo, merecia ser dito”, acredita Carlos.
saiba mais
Dublagem
Algumas pessoas por vezes questionam o fato de todos dublarem durante a peça. Lúcio explica que é uma questão de logística, já que são nove palcos. “Até chegamos a ver a possibilidade, mas nesse espetáculo, é impossível. São nove palcos, precisaríamos de uma estação de som para cada um e trocar os microfones a toda hora. Fora isso, tem problema do outro que fala perto. E se faltar voz? Tivemos caso de ator que ficou afônico, mas com isso não foi preciso ser substituído”, pondera Lúcio.
Algumas pessoas por vezes questionam o fato de todos dublarem durante a peça. Lúcio explica que é uma questão de logística, já que são nove palcos. “Até chegamos a ver a possibilidade, mas nesse espetáculo, é impossível. São nove palcos, precisaríamos de uma estação de som para cada um e trocar os microfones a toda hora. Fora isso, tem problema do outro que fala perto. E se faltar voz? Tivemos caso de ator que ficou afônico, mas com isso não foi preciso ser substituído”, pondera Lúcio.
As falas são todas gravadas individualmente. Cada ator passa de três a quatro horas no estúdio, para que os diretores tenham opção na hora de editar a versão final que vai ser apresentada durante a temporada. “Os textos não são difíceis. Não há uma análise muito grande do personagem, você não penetra tanto. Todos acabam dizendo que queriam fazer de outro jeito, é normal”, acredita Lúcio.
A dublagem ainda tem uma curiosidade: nem sempre a voz corresponde à do ator que está em cena. “Judas esse ano é interpretado por Júlio Rocha, mas a voz ainda é a de Ednaldo Lucena. O Anás [vivido por Lucena] tem a voz de Carlos Reis e por aí vai”, explica Lúcio, que, com mais de 40 anos de teatro, conta ainda que são as pequenas ideias, como cortar uma fala, que fazem toda a diferença. “Chega uma hora em que você fica entre o texto e o espetáculo. Por vezes, você precisa abdicar do texto para que o espetáculo engrene”, afirma.
Imprevistos
Mesmo com a dublagem e mais de 50 horas de ensaio, sempre surgem imprevistos que exigem criatividade tanto do elenco como dos diretores. As histórias são encaradas, muitas vezes, com bom humor e servem como experiência. “Teve um ano em que, na hora da Santa Ceia, quando Jesus vem à frente e diz ‘Minha alma está abalada’, uma mulher gritou: ‘Abalada estou eu por você, gostoso’. Isso desconcentra qualquer um, é o tipo de coisa que a gente tem que lidar”, conta André Lombardi, filho de Lúcio e assistente de direção do espetáculo.
Mesmo com a dublagem e mais de 50 horas de ensaio, sempre surgem imprevistos que exigem criatividade tanto do elenco como dos diretores. As histórias são encaradas, muitas vezes, com bom humor e servem como experiência. “Teve um ano em que, na hora da Santa Ceia, quando Jesus vem à frente e diz ‘Minha alma está abalada’, uma mulher gritou: ‘Abalada estou eu por você, gostoso’. Isso desconcentra qualquer um, é o tipo de coisa que a gente tem que lidar”, conta André Lombardi, filho de Lúcio e assistente de direção do espetáculo.
Outro imprevisto aconteceu durante os ensaios, em 2012, com os cavalos que puxavam a biga que traz Pôncio Pilatos até o Fórum de Jerusalém. “Um dos cavalos morreu e a égua estava muito velha, então tivemos que colocar dois cavalos novos. Um dia, durante os ensaios, os cavalos cismaram de só querer andar para trás, depois de deixar Pilatos. Acabou tendo um acidente, a biga virando e os cavalos ficando pendurados”, recorda Carlos Reis. Ainda assim, os animais foram treinados até que conseguissem fazer a cena e, nos dias de apresentação, tudo acabou dando certo.
Paixão de Cristo
O espetáculo deste ano fica em cartaz até o sábado (30). Com direção de Carlos Reis e Lúcio Lombardi, o espetáculo que conta os últimos dias de Jesus tem mais de 500 atores e figurantes. No elenco, estão os atores globais Marcos Pasquim, interpretando o rei Herodes; Carol Castro dando vida a Maria Madalena, e Carlos Casagrande fazendo o papel de Pilatos. Entre os pernambucanos, José Barbosa faz Jesus pela segunda vez e Luciana Lyra interpreta Maria.
O espetáculo deste ano fica em cartaz até o sábado (30). Com direção de Carlos Reis e Lúcio Lombardi, o espetáculo que conta os últimos dias de Jesus tem mais de 500 atores e figurantes. No elenco, estão os atores globais Marcos Pasquim, interpretando o rei Herodes; Carol Castro dando vida a Maria Madalena, e Carlos Casagrande fazendo o papel de Pilatos. Entre os pernambucanos, José Barbosa faz Jesus pela segunda vez e Luciana Lyra interpreta Maria.
Quem sai do Recife de carro ou de ônibus tem duas opções: a BR-232 e a PE-90. Para quem vem de outros estados, há as BRs 316, 116, 304, 101, 235, 110 e 104. Os ingressos estão à venda no estande da Paixão de Cristo, localizado no Shopping RioMar. Também é possível comprar nas bilheterias da cidade-teatro e no escritório de Nova Jerusalém, pelo telefone (81) 3732.1129. Os ingressos variam de R$ 60 a R$ 90 e podendo ser pagos em até 12 vezes no cartão de crédito, se comprados no site oficial.
Serviço
Paixão de Cristo de Nova Jerusalém
De 22 a 30 de março
Ingressos: R$ 60 a R$ 90
Site oficial: www.novajerusalem.com.br
Paixão de Cristo de Nova Jerusalém
De 22 a 30 de março
Ingressos: R$ 60 a R$ 90
Site oficial: www.novajerusalem.com.br
Links Patrocinados
Seja Sócio do Sam's Club
Faça Seu Cartão de Sócio e Tenha Ótimos Preços. Saiba Mais!
Nenhum comentário:
Postar um comentário