Condene o pecado, mas não o pecador
Postado por: homilia
agosto 28th, 2012
Parece estranho alguém se levantar e se pôr em
briga contra si mesmo. Mas foi, é e será sempre a exigência de Jesus. É preciso
fazer guerra contra nós mesmos, a fim de destruir em nós o causador da nossa
morte.
No “Ai de vós!” temos a continuidade da
contundente denúncia de Jesus quanto a incoerência e a hipocrisia dos escribas e
fariseus que integravam a cúpula religiosa de Israel.
Se quiser avançar corretamente, com discrição e
dando frutos no caminho da verdadeira religião, você deve ser austero e rígido
consigo mesmo e sempre alegre e aberto para com os outros, esforçando-se, no seu
coração, por caminhar nos cumes da retidão, sabendo inclinar-se, com bondade,
para com os mais fracos. Numa palavra, perante o juízo da sua consciência, você
deve moderar os rigores da justiça, de tal forma que não seja duro para com os
pecadores, mas acessível ao perdão e indulgente.
Considere o seu pecado como perigoso e mortal; o
dos outros, considere-o como fragilidade da condição humana. A falta que, em
você, considera digna de severa correção, pensa que, nos outros, não merece mais
do que uma pequena admoestação. Não seja “mais justo do que o Justo”. Receie
cometer o pecado, mas não hesite em perdoar ao pecador. A verdadeira justiça não
é a que precipita as almas dos irmãos no laço do desespero. É preciso sabermos
que, se a nossa vida não nos parece tão brilhante, a dos outros não nos dever
parecer toda feia. E como seria bom se fôssemos para nós mesmos juízes severos!
Aposto com você que as faltas dos outros não encontrariam em nós censores tão
rigorosos.
Partamos para a guerra como Josué. Tomemos de
assalto a cidade mais forte deste mundo, o meu e o seu coração de onde está toda
a malícia. Destruamos as suas muralhas orgulhosas. Só então encontraremos à
nossa volta o caminho que é preciso tomar, o campo de batalha e o inimigo a
derrubar. Quem é? Você já sabe: é o pecado. O que falta é descobrir onde está e
quais são as suas artimanhas.
Portanto, embora lhe pareçam estranhas as minhas
palavras, elas são verdadeiras: limite a sua procura a si mesmo. Está em você o
combate que irá travar, no seu interior, o edifício de malícia que você tem de
minar; o seu inimigo sai do fundo do seu coração. Não sou eu quem o diz, mas
Cristo: “É do coração que vêm os maus pensamentos, os assassínios, os
adultérios, as impurezas, os roubos, os falsos testemunhos, as palavras
injuriosas” (Mt 15,19).
Percebe qual é o poder deste exército inimigo que
avança contra você a partir do fundo do seu coração? Ei-los! Os inimigos que
temos de massacrar no primeiro combate, de eliminar na primeira linha da
batalha. Se formos capazes de derrubar as muralhas deles e exterminá-los até que
não reste nenhum para contar, nenhum para recobrar o ânimo (cf. Js 11,14), se
não ficar um único para retomar vida e ressurgir nos nossos pensamentos, então
Jesus dar-nos-á o grande repouso.
Jesus, não querendo ser alvo de censura como os
fariseus, no Evangelho de hoje – que se preocupavam com as coisas externas
deixando o essencial para segundo plano – vos peço: “Dai-me forças para ser
guerreiro de mim mesmo, para transformar o meu coração. Dai-me um coração puro
para que do meu interior brotem a honestidade, a verdade, a justiça, a
misericórdia e a fidelidade. E, assim, eu possa ser o caminho para os perdidos,
a luz para os que estão nas trevas, a voz para os mudos nas coisas de Deus, a
vez para os excluídos da convivência humana, a alegria para os tristes, o pão
para os famintos, a paz para os que estão em guerra, amor para os que semeiam
ódio e vingança, levando todos os homens para Vós que sois o Caminho, a Verdade
e a Vida do homem”.
Padre Bantu Mendonça
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