Como discípulos fazemos parte da família de Jesus
Postado por: homilia
janeiro 29th, 2013
Marcos, no início de Seu
Evangelho, apresentou a tensão entre “sinagoga”, da qual Jesus se
afasta, e “casa”, que passa a ser o local de reunião das novas
comunidades em torno de Jesus.
Vemos, no texto de Mc 3,31-35, que Jesus
se encontra dentro da casa, seus parentes do lado de fora e a multidão
ao Seu redor, ouvindo-O. Estão reunidos os discípulos e discípulas em
torno de Jesus, como também a multidão – pessoas do povo -, capaz de
deixar tudo e segui-Lo. São aleijados, coxos, pobres, doentes que estão
“como ovelhas sem pastor” (Mc 6,34).
“Participar da casa” é participar do
banquete da vida, da aproximação com o outro como espaço de diálogo e
compreensão. Para poder “entrar na casa” é preciso romper com o sistema
de opressão que há em nossa sociedade, na medida em que faço do outro
instrumento da minha vontade e o coloco em disputa com os demais. A casa
é o lugar apropriado para desenhar a proposta que Jesus deseja anunciar
e promover o sistema de relação social.
“…Um profeta só é desprezado em sua
pátria, em sua parentela e em sua casa” (Mc 6,4). As pessoas capazes de
compreender a missão de Jesus são aquelas que fazem a experiência d’Ele.
Os mais próximos se afastam diante da missão de Jesus, enquanto os mais
distantes se aproximam d’Ele e de Sua missão. “Aproximar da missão” é
encontrar-se dentro da casa e reconhecer em Jesus a presença do Reino de
Deus.
No relato de Marcos 3,20-21, encontramos
que o “estar na casa” é o principal foco e eixo de partida, enquanto
que, nos versículos 31-35, o grande eixo é a pergunta: “Quem é minha
mãe, e quem são meus irmãos?”. Jesus se sente próximo e familiar a todos
que se deixam envolver por seu projeto. O grau de parentesco é como um
título para que se possa fazer parte da nova comunidade e requer, acima
de tudo, fidelidade. Enquanto, anteriormente, a preocupação da família
era a incompreensão da missão de Jesus, o qual tinha a família como eixo
estrutural, agora Jesus nos diz: “…eis a minha mãe e meus irmãos. Quem
fizer a vontade de Deus, esse é meu irmão, irmã e mãe” (Mc 3,34-35).
É preciso ser obediente a Deus, porque no
centro está o ser humano e suas necessidades. Estar sentado à Sua volta
é estar atento aos Seus ensinamentos: “Enquanto caminhavam, Jesus
entrou num povoado, e certa mulher, de nome Marta, o recebeu em sua
casa. Sua irmã, chamada Maria, sentou-se aos pés do Senhor, e ficou
escutando a sua palavra. Marta estava ocupada com muitos afazeres.
Aproximou-se e falou: «Senhor, não te importas que minha irmã me deixe
sozinha com todo o serviço? Manda que ela venha ajudar-me!» O Senhor,
porém, respondeu: «Marta, Marta! Você se preocupa e anda agitada com
muitas coisas; porém, uma só coisa é necessária, Maria escolheu a melhor
parte, e esta não lhe será tirada.»”(Lc 10,38-42).
É a unidade em Jesus que se deve fazer
evidente numa opção de vida, na instauração de uma família, como também
na vida. Viver a vida com adesão ao projeto divino e na construção de um
mundo novo, no qual a esperança nos move para frente para podermos
chegar “…a uma terra fértil e espaçosa, terra onde corre leite e mel”.
O evangelista Marcos nos deixa claro,
aqui, que o importante é entrar na casa, conversar, dialogar e
participar da vida com o(a) outro(a). Assim, a comunidade do discipulado
será a nova família que queremos formar.
Portanto, as palavras de Jesus,
questionando “quem é sua mãe e quem são seus irmãos”, têm o sentido de
revelar que o dom de Deus, n’Ele presente, não se restringe a laços
consanguíneos privilegiados. Jesus substitui esses laços estabelecidos
na tradição pelos laços do amor verdadeiro e sem fronteiras, que vão
muito além dos limites de família ou raça.
A verdadeira família é aquela constituída por pessoas que, fazendo a vontade de Deus, tornam-se discípulas de Jesus.
Padre Bantu Mendonça
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